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Do futebol pentacampeão ao declínio. Seja no campo ou internamente enquanto entidade, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vem trilhando um caminho e construindo uma história de derrocada descomunal para o futebol brasileiro. Para além da imoralidade vista a cada temporada com um calendário esdruxulo, o silêncio ensurdecedor sobre os casos mais absurdos envolvendo estrelas da amarelinha. Casos esses que vêm se desenvolvendo – e arrastando – desde 2013, com capítulo final (e eu espero que seja), em 2023.
Daniel Alves e Robinho, craques em suas épocas: são dois expoentes do futebol brasileiro condenados e que estão presos por ESTUPRO!
Justamente por entender que os casos extrapolam o mundo do futebol, os abjetos citados foram, em tese, exemplos para muitos jovens que cresceram vendo eles jogarem, tendo esses exemplos dentro das quatro linhas como inspiração.
Qual é a criança que não pensa em ser multicampeão pelo clube que atua?
Que tem o desejo, sonho e a emoção de poder comemorar uma convocação para representar seu país?
Entrar em campo e ver o estádio lotado, tendo seu nome ovacionado por algum motivo ou razão?
Marcar um gol, decidir um título e ter seu rosto estampado num bandeirão e/ou em todas as capas de jornais, sites e revistas?
Ser ídolo pelo clube que atua ou pela seleção de seu país?
O tiro saiu pela culatra quando os rostos de Daniel Alves e Robinho passaram a estampar as páginas policiais de jornais, sites e revistas de todo o mundo. Nesse aspecto criminoso, os expoentes passaram de exemplos enquanto jogadores para estupradores com os piores requisitos: ardilosos, encardidos, sórdidos, podres, sujos, de um mau-caratismo tremendo e caberia muitos outros adjetivos aqui. Ações e atitudes como essas evidenciam que quando a instituição familiar falha e a educacional também, recorrem ao religioso com a frígida premissa do ‘Deus acima de tudo’.
A sociedade tem por obrigação repensar sobre casos absurdos e inaceitáveis como esses, mas dentro do futebol é IMPRESCIDÍVEL repensar o que querem deixar para esses jovens no futuro: a CBF não pode fechar os olhos para esses extremos. Levando em consideração que esses jovens atletas passam grande parte da vida nos Centros de Treinamentos, os clubes precisam, sim, mergulhar de cabeça numa questão social, em que os dados diariamente só aumentam.
Quando se trata de marmanjos, que é o caso dos sujeitos, a cadeia é o único caminho para cumprimento de pena em razão do crime cometido – o que no caso dos dois é muito pouco. Aos jovens que têm o sonho de serem craques, a família precisa estar presente e acompanhar cada passo dado. A educação, tanto criticada na seara pública por falta ou baixa qualidade, tem que ser cobrada, mas quem trata disso não é a escola, começa dentro de casa.
Como que é forma cidadãos se as gerações abrem mão dos estudos para virar jogador de futebol?
Quem faz essa cobrança?
E quando a conta chega, quem paga?
Levando em consideração que Daniel e Robinho cometeram seus crimes já com suas carreiras consolidadas – inclusive no exterior – e com uma grande experiência de vida, já que eram casados, constituíram famílias, fica até difícil analisar e avaliar o que pode ser do futuro. Não se pode credenciar a obsessão, o poder que o homem acha que tem sobre o corpo feminino como um ato cometido – que traumatiza, adoece e mata – apenas por conta de escolhas erradas. Essa escolha foi pessoal, assertiva, concreta e decidida internamente: eu quero, eu posso, eu vou fazer. E fizeram.
No caso de Daniel Alves, o estupro cometido por ele, para o Tribunal de Barcelona teve um preço. A liberdade provisória em troca de uma fiança de 1 milhão de euros (R$ 5,4 milhões) reflete o quanto o crime compensa (também, né? Esperar o que de um país extremamente racista?). O sentimento de impunidade foi exposto por Leila Pereira, presidente do Palmeiras e chefe de delegação da Seleção Brasileira. “Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação da Seleção Brasileira, tenho que me posicionar sobre os casos de Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, disse ao portal UOL.
Seja voz, Leila!
Ainda está em tempo de a maior entidade de futebol do país emitir, nem que seja uma nota chinfrim sobre os casos envolvendo atletas que representaram e passaram pela Seleção Brasileira. Não dá para não se posicionar acerca de atos absurdos cometidos pelos seus. Existe um elo, há, inegavelmente, uma relação e manter-se vergonhosamente calada é passar pano para que impunidade seja uma estrada contínua.
A CBF precisa decidir se vai ficar do lado da Justiça ou do crime.
E essa não é uma escolha difícil.
*Neison Cerqueira é jornalista e apaixonado por futebol e política.