Foto: Info Bahêa/X
O futebol brasileiro e precisamente o baiano, viveu um momento histórico no sábado (02), quando torcedores do Bahia foram até a Arena Fonte Nova eleger o novo presidente da associação do clube. Émerson Ferreti e seu vice, Paulo Tavares, receberam 1.089 dos 3.179 votos válidos – 34% da preferência do público votante. A Diretoria Executiva ficará sob seu comando até 2026. Ele irá suceder Guilherme Bellintani.
Ferreti é o primeiro homem assumidamente gay a ser eleito presidente de forma democrática por um grande clube de futebol no Brasil.
Acompanhando os noticiários, em sua maioria, os veículos de comunicação evidenciam o fato de ele ser homossexual. Intriga. O meio homofóbico que existe no futebol ainda assusta. Aos 52 anos, o ex-arqueiro já mostrou que, além de ídolo, tem experiência, e como ele mesmo disse, se preparou para esse momento.
O fato de ser gay, escolhido por desejo da maioria, não foi preponderante. Se repercute, é por alguma razão e assusta.
A condição (prefiro usar esse termo) sexual de Ferreti em nada vai influenciar no trabalho que pretende desenvolver no clube, mas por quê sua sexualidade é colocada em questão? Diante de um meio tão preconceituoso e uma sociedade doentia, ao meu ver, tais rótulos só reforçam o que ela – a sociedade – acha que pode impor.
Ferreti tem todas as prerrogativas para chegar onde chegou. Foi um grande atleta no campo, um profissional exemplar e fora das quatro linhas, competente na gestão. Defendeu o clube por seis anos, trabalhou e reergueu o Ypiranga das cinzas, pagou do próprio bolso. É estudioso: graduação em administração, tem pós em gestão esportiva.
Pelo visto, é mais difícil abordar o preparo e competência para assumir o cargo que passará a ocupar. A ideia, ao que parece, é desmerecer sua eleição em prol da insistência e velada (pra não dizer criminosa), que é uma forma maçante de minimizar conquistas e feitas por um homem cis pelo simples fato de ser homossexual.
A própria história e sobretudo sua relação Bahia são marcantes. Vestindo a camisa do Bahia, conquistou Nordestão, Baianão, foi Bola de Prata da Placar 2001, sendo destaque pelo mesmo Bahia: conquistou o prêmio por ser melhor goleiro do Brasil naquele ano. Em nada sua homossexualidade foi impeditivo para seguir carreira e fincar seu nome na história do futebol brasileiro. Conviver sob pressão na década de 90 foi o suficiente. Lá, era ‘obrigado’ a vestir uma peça para ocultar a homossexualidade. Há 30 anos.
Dito isso, considero que deva ter vivido uma sentença de ‘morte’ na carreira enquanto atleta. Ainda que seja algo muito difícil nos dias atuais e muito – falando com convicção – por desconhecimento e um tonel de suco de puro preconceito, que Ferreti continue sua luta, sendo voz e dando forças para quem ainda acredita que ser gay é um tabu difícil a ser quebrado.
Que sua coragem seja encarada como ponte e ajude a construir um futebol que acolha as diferenças. É um marco histórico, momento único, ímpar, é um avanço enorme para que possamos a cada dia diminuir a LGBTFOBIA no futebol. Que sirva de exemplo para quem ainda vive atrás dos armários dos vestiários.
Aos fiscais da sexualidade alheia, já passou da hora de abrir a mente. Não há aceitação, porque isso não diz nada sobre você, e sim respeito: gay também é gente. É preciso entender e internalizar que sua opinião preconceituosa ou muitas vezes não veladas, não vai mudar o fato de existir homossexual no futebol.
Pega seu preconceito e enfia goela abaixo.
Acredite: muitos jogadores e dirigentes ainda precisam sair do casulo e voar, assim como as libélulas. Com certeza serão bem mais felizes se amando exatamente do jeito que é, sem medo de abraçar a própria condição sem ressalvas, de nunca rebaixá-la. A autossuficiência ajuda a se proteger de represálias ou isolamento. Que possamos praticar e viver todos os dias esse orgulho, para que ele nunca seja obsoleto.
Isso não é terapia. É autoconhecimento. É autoaceitação.
Nunca permita que apontem o dedo ou determine como você deve ser feliz. Seja.
Do seu jeito.
Do seu Modo.
Como convir, como te bastar.
Apenas seja feliz.
Esse é um direito de todos e não importa em qual condição.
*Neison Cerqueira é jornalista e apaixonado por futebol e política.