Foto: San Junior/Divulgação/EC Bahia
O escritor Nelson Rodrigues descreveu o espírito derrotista dos brasileiros, que perdeu para o Uruguai na Copa de 50, lá em 1958, como “Complexo vira-lata”. Sentimento ferido. Ego inflamado. O termo, em tese, significa “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
Parte da torcida do Bahia tem vivido nesse contexto.
O ingresso do clube ao maior conglomerado de futebol do mundo, o City Football Group (CFG), trouxe a esperança de que no ano de maior investimento, o time, enfim, iria vingar.
Fail.
Dentro de campo uma catástrofe anunciada. O ponto focal desse texto é uma crítica – não sei construtiva, pois como disse, existem egos e mais egos que perambulam nas arquibancadas – a como o torcedor do Bahia tem se comportado diante de toda situação caótica que o time passa na temporada.
Erro 1: manutenção de Renato Paiva;
Erro 2: não contratação de peças importantes, como ataque e meia com anuência de Renato Paiva;
Erro 3: o CFG subestimou o futebol brasileiro.
A verdade é que o torcedor já se acostumou com o mínimo. Lotar o estádio porque o Bahia precisa do apoio. O clube fazer ‘promôs’ porque precisa desse apoio. Colocar mais de 30 mil em praticamente todos os jogos na Fonte Nova, porque para além da festa, o amor transmitido ali em forma de energia, voz e lágrimas, é incodicional. E sim, o time precisa do torcedor.
E o Bahia, o que fez/faz para retribuir a todo esse empenho? N A D A!
Se parar para pensar bem, comemora-se o N A D A. Independente do amor incondicional, o sentimento, quando maltratado, cansa. Há anos, desde a Série C, esse apoio vindo das arquibancadas é histórico. Nunca faltou. E nunca faltará, porque é amor mesmo e só quem ama sabe, mas convenhamos: o sofrimento em questão não pesa? E aautocrítica?
O recíproco oferecido pelo Bahia é masoquista. E dói.
No ano em que o ‘boom’ dentro de campo poderia transcender limites – se é que amar tem limites – o time patina. Há anos a mesmice e o espírito do “aqui me basta” tomaram conta de uma parcela da torcida. Nas redes, diversas discussões e inclusive em defesa do português que já ralou peito. É muito pouco, mas muito mesmo, para o que clube significa na vida pessoal e para o futebol brasileiro. Talvez as estrelas ainda brilhem. Talvez.
Já imaginou o time lutando na primeira parte da tabela e beliscando uma vaga na pré-libertadores? Na fase de grupos da Libertadores? É um sonho, distante. O momento atual mostra isso. Mas, imagine a festa nesse aspecto? Não consegue.
Fica só no lúdico. E no lúdico, meu amigo, o mundo pode até estar em guerra, mas aqui já será Carnaval!
Foi instituída a pequenez desde o “14º orçamento”. Hoje, o tal ‘projeto’ (confesso que essa palavra, assim como ‘virada de chave’, me dão ojeriza) também é defendido. Tem gente – e por essa razão não generalizo, mas me dá asco – que, pelo projeto, acha normal o Bahia cair para a Série B.
Que merda!
O espírito mesquinho, a falta de ambição e gana, perpassaram o interno e chegou até as arquibancadas. Infelizmente. Antes a justificativa era a falta de verba para investir no futebol. Hoje, tendo verba para investir no futebol, cometeu o pecado capital: a diretoria do Bahia mostrou e provou por A+B que dinheiro na mão é vendaval.
A verdade é que atualmente o Bahia estendeu e desfila no tapete vermelho do fracasso!
Também nas redes, diversas teorias criadas: é o pé frio, a energia negativa, a camisa que não é a que dá sorte, o amigo (a) que nunca foi, a pessoa que vestiu preto e todas as demais teorias conspiratórias que pra mim são piegas. O time, em campo, claro, não tem culpa alguma!
Faltam 13 jogos (oremos!).
Com certeza, nas partidas em casa, a Fonte Nova estará lotada.
Diante dos cânticos que ecoam das arquibancadas, eu só espero que o efusivo ‘Xalaiá laiá’ não seja mais um ensaio para caso o time caia e que no ano que vem – pé de pato mangalô três vezes – não seja necessário, de novo, completar com o “Vamos subir, Esquadrão”.
*Neison Cerqueira é jornalista e apaixonado por futebol e politica.